Fotografías © Sónia Marquès

Os bons momentos dão-nos desculpas para não reclamar, os bons momentos me dão energia para admirar lindas coisas e lembrar-me que tudo é maravilhoso.

Fotografías © Sónia Marquès


Fernando Pessoa :

Novas Poesias Inéditas

(Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.)

Olhando o mar, sonho sem ter de quê

Olhando o mar, sonho sem ter de quê.

Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.

Mas de se nada ver quanto a alma sonha!

De que me servem a verdade e a fé?

 

Ver claro! Quantos, que fatais erramos,

Em ruas ou em estradas ou sob ramos,

Temos esta certeza e sempre e em tudo

Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

 

As árvores longínquas da floresta

Parecem, por longínquas, estar em festa.

Quanto acontece porque se não vê!

Mas do que há ou não há o mesmo resta.

 

Se tive amores? Já não sei se os tive.

Quem ontem fui já hoje em mim não vive.

Bebe, que tudo é líquido e embriaga,

E a vida morre enquanto o ser revive.

 

Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser

Motivos coloridos de morrer?

Mas colhe rosas. Porque não colhê-las

Se te agrada e tudo é deixar de o haver ?

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Fotografías © Sónia Marquès



Sophia de Mello Breyner Andresen |
"Antologia", pág. 111 | Círculo de Poesia Moraes Editores

Praia


Os pinheiros gemem quando passa o vento
O sol bate no chão e as pedras ardem.

Longe caminham os deuses fantásticos do mar
Brancos de sal e brilhantes como peixes.

Pássaros selvagens de repente,
Atirados contra a luz como pedradas,
Sobem e morrem no céu verticalmente
E o seu corpo é tomado nos espaços.

As ondas marram quebrando contra a luz
A sua fronte ornada de colunas.

E uma antiquíssima nostalgia de ser mastro
Baloiça nos pinheiros.

Fotografías © Sónia Marquès

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