Fotografías © Sónia Marquès, e poema...
A ALMA E O SAL
Comecei de imediato a sonhar com o mar, com o murmúrio manso das ondas de Setembro, comecei a sonhar com a maravilhosa liberdade do mar, o rumor do mar, o mugido das rochas cobertas de lapas, de mexilhões, de conchas, quando a maré desce...
Sentimentos contraditórios,
O ser humano é percorrido por emoções opostas, de uma sensibilidade rica e generosa, ele pode partir para a guerra e capaz de piores atrocidades...
Por que as pessoas procuram o mal e machucam outras que não conhecem e nunca conhecerão ?
Porque há frustrações profundas e por vezes uma cegueira profunda: não sentir, não ter emoção, não reconhecer as paisagens
Confundir as imagens com o que sentimos perante
as ilusões, do que pensávamos ver e saber, o ser humano engana-se no
caminho, e às vezes por muito tempo, talvez para sempre...
No espelho dos pássaros
Reconhecer as paisagens não é apenas vê-las
Comecei de imediato a sonhar com as ondas de Setembro
É ninguém é ninguém, eu também sou pessoa
Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo
O valor das coisas não esta no tempo em que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesqueciveis, coisas inexplicaveis e pessoas incomparaveis
(FP)
A vida
A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro. Homem algum chegou a ser completamente ele mesmo; mas todos aspiram a sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode. Todos levam consigo, até o fim, viscosidade e casas de ovo de um mundo primitivo. Há os que não chegam jamais a ser homens, e continuam sendo rãs, esquilos ou formigas. Outros são homens da cintura para cima e peixes da cintura para baixo. Mas cada um deles é um impulso em direção ao ser.
(HH)
Homem ? E mulheres...
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
(FP)
Cada momento mudei...
Fotografías © Sónia Marquès, e poema...