Fotografías © Sónia Marquès & querido / La vierge à l'enfant

Descobrir novas mulheres artistas, que já não são deste mundo, e pouco reconhecidas, emociona-nos muito. Poderiam estar novamente expostas, e ninguém saberá que nasceram há muito tempo, num tempo em que nem a Internet nem o telemóvel eram tão importantes como hoje. No fundo, não importa os novos meios de comunicação. O que estamos a redescobrir hoje com alegria, confinados mesmo, é uma espécie de eternidade, e a Internet dá-nos acesso, a nós, pobres, a percursos tão diferentes. Quando ensinava, fazia um grande esforço para devolver as obras de mulheres artistas a estudantes que não conheciam nada. Hoje, longe das escolas de arte, faço exatamente o mesmo, exceto que me dirijo a um maior número de pessoas, que nunca frequentaram escolas de arte, ou, que nunca foram para uma escola de arte, e que nunca vão. Finalmente, que melhor prenda recebi lá. Ter sido excluída do ensino, privado de poder fazer o meu trabalho, é compreender que não é às más direções de escola de arte que se retira a arte de amar ensinar. Nunca. Não é assim que se consegue formar jovens e adultos na abertura, nunca é através da exclusão. Não há nenhum privilégio em amar a expressão artística. Nem a ser artista, nem a amar artistas, nem a amar arte, nem a amar a educação artística. Não é um privilégio, é uma forma de olhar o mundo com grande sensibilidade e acolher com simpatia o que é diferente.

Fotografía © Sónia Marquès (A Igreja de São Roque em Lisboa)